Deputados sem CPI criam Grupo Pró-Congresso

O Globo

BRASÍLIA. “O que fazer?” Há três semanas um grupo de deputados excluídos das investigações e de seus holofotes decidiu se unir para buscar respostas a essa clássica pergunta da política em tempos de crise. A iniciativa vem dando certo e já tem nome: Grupo Pró-Congresso.

No início de agosto, eram 16 deputados. Na semana passada, reuniram-se 40 e dois senadores. Na terça-feira, acontecerá o quarto encontro, e a lista deverá somar mais de 64 parlamentares, de diversos partidos — já estão lá PSDB, PFL, PT, PDT, PV, PSB, PPS e PTB. O objetivo é chegar a cem em setembro.

— É uma conspiração do bem para fazer as coisas andarem e lutar contra a impunidade — diz Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos criadores do grupo, com Rafael Guerra (PSDB-MG) e Yeda Crusius (PSDB-RS).

Maior preocupação

é imagem negativa

Nessas sessões noturnas, o primeiro e mais forte consenso é a exigência da investigação de todas as denúncias e a punição dos culpados. Rapidamente. Uma das decisões tomadas foi procurar os órgãos envolvidos na apuração dos crimes e delitos, como o Tribunal de Contas da União, o Banco Central, o Ministério Público e a Polícia Federal. Vão pedir que cumpram sua parte e colaborem com as CPIs.

— O Congresso é a instituição fundamental para a democracia. E precisa de uma faxina. Nosso objetivo é fazer oposição ao comportamento político atual e para isso precisamos criar mecanismos de controle e fiscalização permanentes — explica Yeda Crusius.

Outra concordância é a de que o grupo não é bloco ou embrião de um novo partido. A maior preocupação é com a imagem negativa do Congresso, fraco e pautado pelo Executivo, e a aversão aos políticos que a crise vem provocando.

— Nosso maior consenso é apurar, punir e não aceitar nenhuma operação abafa — afirma Guerra. — Queremos construir um grupo que possa recuperar a credibilidade do Congresso e mostrar que político não é só bandido.

Na pauta, necessidade de agenda mínima

Na pauta das reuniões, está a necessidade de obter uma agenda mínima. O primeiro item é a reforma eleitoral, já votada no Senado. Mas se acordos são difíceis num ambiente de alta diversidade, mas onde há objetivos comuns, são quase impossíveis no atual Congresso, sobretudo na Câmara, uma casa em que impera a desconfiança — quatro dos seis líderes governistas estão sob suspeita. A tentativa, porém, é criar mais que consensos. É estabelecer mecanismos de confiança e diálogo, mercadorias raras hoje em Brasília.

— Estamos buscando um antídoto ao quadro atual. Posso não concordar com algumas propostas, mas sei que quem propõe tem boas razões — diz Miro Teixeira (PT-RJ).

— O que nos une é a inconformidade com as práticas políticas vigentes, que se tornaram rotineiras na vida do país. Há uma repulsa geral — completa o senador Jefferson Peres (PDT-AM). — É preciso recuperar o respeito. O maior perigo é a inércia — diz.

Para petista, é preciso evitar prejuízo para democracia

No quinto mandato, o deputado Paulo Delgado (PT-MG) afirma que há uma “desmoralização da moral parlamentar”. Acredita que essa é a primeira vez em que acusados não aceitam o papel de tribunal que o Congresso exerce. E teme que na luta para preservar os mandatos, os acusados comprometam a democracia:

— É preciso criar uma força de imposição de paz, delimitar as áreas de conflito.

Paulo Delgado
Paulo Delgado
Sociólogo, Pós-Graduado em Ciência Política, Professor Universitário, Deputado Constituinte em 1988, exerceu mandatos federais até 2011. Consultor de Empresas e Instituições, escreve para os jornais O Estado de S. Paulo, Estado de Minas e Correio Braziliense.

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