Seminário sobre a atual situação da Educação Brasileira
“Educação, Estágio e Trabalho”
PALESTRA: “Educação e o Futuro dos Jovens”
CIEE Nacional e CIEE Santa Catarina
Florianópolis – UFSC – 23.04.2010
Paulo Delgado – Professor, Deputado Federal
Caçar, pescar, cortar lenha, carregar água…. foi-se há muito tempo o tempo de colher sem plantar, crescer sem estudar.
O momento atual é decisivo para o futuro dos jovens e a definição de Políticas Públicas para a Educação. Na primeira semana de abril foi realizado amplo debate sobre o Plano Desenvolvimento da Educação para os próximos 10 anos, dentro do CONAE 2010 – Conferência Nacional de Educação, realizado no período de 28 de março a 1 de abril.
Este é o tempo de ajustarmos a oferta de qualificação com as demandas do mercado. A maioria dos jovens na faixa dos 16 e 17 anos encontra dificuldades na escolha de uma profissão. Isso, devido até mesmo a inexperiência própria da idade, mas também ao desamparo que é decidir sozinho.
O mundo da educação e do trabalho ajuda a desarticular essas incertezas. E por ser infinito sempre transmiti algo novo quando expresso em suas leis, processos e códigos. É um mundo de possibilidades reais que embora dirigido a indivíduos no presente deve mirar gerações, instigando a independência de alma que é o que anima e reúne a juventude. Estudar é vincular-se como profissional ao futuro. Forma elevada de sair da tutela da família, dispensar a assistência pública, chegar emancipado à vida adulta.
Para isso é necessário enfrentar a baixa escolaridade e a falta de capacidade profissional de nossos jovens. São os desafios da educação profissional e do aprendizado prático constante que visam desenvolver uma pedagogia para a autonomia trabalhista . E que, assim, buscam deslocar o risco social que arregimenta jovens sem destino em busca de sobrevivência, manutenção, para outra realidade possível que está contida nos princípios do educar para a vida, aprender para o trabalho. Educação com trabalho permiti à família vislubrar formas de educar os filhos sem quebrar os país. E ao jovem ter o prazer de fazer e pensar por conta própria dando vez a própria voz.
Nesse contexto ressalta-se a importância dos agentes que fazem a interface entre a educação, a prática através do estágio bem orientado e o futuro mercado de trabalho que os jovens irão enfrentar como o CIEE o faz.
Cada vez mais as empresas descobrem o valor do estágio como a ponte entre a te¬oria e a prática, indispensável ao proces¬so de formação do futuro profissional. É durante esse período que se pode medir o potencial da juventude para ser protago¬nista de uma carreira de sucesso.
A qualificação crescente de mão-de-obra e níveis elevados de educação e cultura conviveria melhor se a Fazenda Nacional decidisse diminuir a tributação para quem acolhesse e multiplicasse a oferta de vagas para aprendizes e estagiários. Porque serão sempre obsoletas as leis trabalhistas quando indiferentes às exigências educacionais. A supervisão escolar permanente, tendo claro o tempo do trabalho e da escola, cuida de garantir seu essencial caráter sócio-educativo.
Um dos principais problemas do emprego da mão-de-obra no Brasil é sua baixa qualificação ou qualificação inadequada, pois é sempre cada vez maior a busca por mercadorias, serviços e tecnologias de qualidade.
Se não agirmos com rapidez e eficiência na preparação desses jovens para o futuro mercado de trabalho, corremos o risco de enfrentarmos o problema da importação de mão-de-obra, como já praticam ou alertam alguns especialistas do Setor Industrial e de grandes empresas como a Petrobrás, Vale e Embraer.
A consideração das áreas do conhecimento que atendam às demandas de política industrial e comércio exterior, por exemplo, promovem o aumento da competitividade nacional e o estabelecimento de bases sólidas em ciência e tecnologia, com vistas ao processo de geração e inovação tecnológica.
Grandes empresas já têm carência de profissionais altamente qualificados e se preocupam inclusive em influenciar a escolha destes jovens ainda na fase do ensino médio.
O Brasil encontra-se estabilizado economicamente, entretanto, essa situação só será sustentável a longo prazo se a Educação e a formação dos futuros profissionais acompanharem essa evolução do mercado, pois, atualmente, já vivenciamos a situação de vagas de trabalho não preenchidas por falta de mão-de-obra especializada.
Cerca de 17 milhões de trabalhadores foram contratados nos últimos anos, segundo pesquisa do IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, nas quase 19 milhões de vagas ocupadas por pessoas que são novos trabalhadores, mudaram de posto ou foram demitidas. E, apesar dessa criação de quase 2 milhões de novos empregos, previstos para este ano, a oferta total de trabalhadores, agora incluindo os recém-formados e o estoque atual de desempregados sem a qualificação necessária, chega a quase 25 milhões de pessoas. Portanto, há um contingente de trabalhadores que precisa de treinamento e experiência tanto para entrar como para permanecer no mercado.
A vida econômica já produz desencaixes excessivos na vida das pessoas. Preparar-se para o trabalho é a melhor maneira de procurar emprego. Há muita gente sem emprego, mas também há muito emprego sem gente. O estágio é a passagem supervisionada do estudo ao trabalho que ajuda o jovem a crescer com confiança.
Por isso, é inconsciente e errática a atual concentração e preferência dos jovens por cursos de Direito, Administração, Ciências Contábeis, Enfermagem e Educação Física ofertados em massa como se fossem commodities educacionais enquanto no mundo matricula-se e estuda-se cada vez mais nas diversas Engenharias, Ciências Biológicas e Genomas, Ecologia e Sustentabilidade, Robótica e Informática, Tecnologia Espacial.
A última sequência de desastres naturais e climáticos que abalaram o mundo – os tremores violentos no Haiti, Chile e Tibet; as chuvas diluvianas no Rio, São Paulo e aqui em Santa Catarina; os 50 graus celsius negativos do inverno no hemisfério norte e o inverso positivo nos trópicos, culminando com a erupção do impronunciável ( Eyjafjalljokull) vulcão islandês – se não mostram uma civilização em risco comprovam o quanto a ciência, a tecnologia e a consciência humanas têm que evoluir e se aperfeiçoar para previnir, preservar, conviver e entender a própria natureza. Um mundo de trabalho e educação, com profissionais e especialistas altamente sofisticados – climatologistas, meterologistas, sismatologistas, ecologistas – é que poderão
nos ajudar a dar mais segurança ao planeta e qualidade da vida na terra.
O futuro sempre foi mais caro do que o presente !!!
Há também um aspecto que muitos menosprezam ou até desconhecem que são as crescentes exigencias pessoais de um profissional de sucesso. O mercado procura além do conhecimentio técnico, características individuais como iniciativa, flexibilidade, adaptação criativa às mudanças constantes, bom relacionamento interpessoal, crescente interatividade com a informática e disponibilidade intelectual para estar sempre inovando e aprendendo. Uma boa educação é metade do caminho de uma boa ação. Os estudos atuais da neurociência permitem concluir que o cérebro não pára de crescer e se modificar para quem não pára de estudar.
O fundamento do conhecimento científico – sua visão teórica e filosófica aliada à experimentação – ensinado e apreendido desde o ensino básico facilita a convivência com os modelos de raciocínio essenciais para o desenvolvimento de competências, hábitos e argumentações próprias das ciências e suas tecnologias. Em qualquer tempo, e de forma progressiva e cumulativa, é possível vivenciar a prática do que se aprende e acostumar-se com o sabor da elaboração de comunicações racionais e científicas, seja na forma de experimentos, relatórios, artigos, exposições, comunicações.
Nossa linguagem escolar e acadêmica não tem produzido uma cultura confortável para a superação individual, o elevado saber e a fabricação do conhecimento. Tudo entre nós é considerado simples, e o devido valor a quem simplificou – pela pesquisa, observação, trabalho e conhecimento sistemático – é negado (somos um país sem patentes, com raras grandes marcas e que pouco respeita a propriedade intelectual).
Para crescer de maneira sustentável e mais cômoda é urgente contribuir e participar da velocidade da mudança mundial. E gastar mais com o futuro, conferindo posição dominante à pesquisa, à cultura científica e ao sentido prático de estudar para melhor trabalhar e viver. E assim poder dizer: não me pergunte o que penso, pergunte o que faço: pelo que faço você descobre o que penso.
Muito obrigado.