Recessão e protestos na Argentina e no Chile afetam relações comerciais com Brasil
Conselho de Economia Empresarial e Política da FecomercioSP discute impactos das crises econômica argentina e social chilena
Em meio a uma crise econômica que parece não ter fim, a Argentina elegeu, recentemente, um novo presidente, enquanto o vizinho Chile se vê diante de levantes sociais sem precedentes desde que a democracia foi restaurada. Tendo em vista que são dois importantes parceiros comerciais do Brasil, o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) discutiu, nesta segunda-feira (4), eventuais impactos e reflexos desses movimentos na economia e na política brasileira.
O copresidente do CEEP – núcleo de Economia Empresarial, Antônio Lanzana, apontou que a recessão argentina já impõe dificuldades ao Brasil. Historicamente, o País tem saldo comercial favorável no comércio com Buenos Aires. Neste ano até setembro, contudo, o resultado da balança comercial entre os dois países se reverteu com o declínio das exportações brasileiras.
“Até o ano passado, a Argentina era o terceiro destino das exportações brasileiras. Agora, por reduzir as importações do Brasil em função das dificuldades econômicas, caiu para quarto, sendo ultrapassada pela Holanda”, pontuou Lanzana.
Sobre a situação argentina, o diretor da Ipê Investimentos, Hassan Mourani, completou dizendo que o presidente eleito Alberto Fernández, apesar de “ainda ser um enigma”, não deve ter outra escolha a não ser “adotar uma política econômica ortodoxa, implementando um ajuste fiscal com algumas concessões sociais”.
“Ele está sob pressão de Bolsonaro e do Mercosul. Não vejo um cenário onde possa haver uma disrupção ou uma política muito grave na Argentina. As cartas na mesa implicam que deve haver um acordo político com o Congresso e com o FMI [Fundo Monetário Internacional]”, avaliou Mourani.
No caso chileno, os conselheiros consideram que só indicadores econômicos são insuficientes para explicar as manifestações sociais, até porque o país lidera entre os latino-americanos em muitos quesitos, como educação, renda per capita e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
“Não conseguimos mais olhar para isso apenas com indicadores econômicos. Precisa-se de uma análise sociológica mais abrangente”, comentou o doutor em Ciência Política e professor de cursos universitários, Humberto Dantas. “Comparando com o que houve no Brasil em 2013, a reação política por lá para entender as demandas da sociedade também tem sido muito ruim”, completou.
O economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Ulisses Gamboa, que morou no Chile por 17 anos e lecionou em faculdades naquele país, comentou que os analistas se mostram “estupefatos” e ainda sem entender o real motivo das manifestações. Segundo ele, há um sentimento de frustração da classe média com a renda e o emprego, além da dificuldade em empreender após uma Reforma Tributária malsucedida, mas “não justificam o levante”. Para ele, os protestos não podem ser atribuídos à desigualdade social.
“Ao longo dos últimos 30 anos, a desigualdade, embora ainda grande, foi diminuindo. Houve uma notável redução da pobreza. Estive lá no ano passado e me impressionou o desenvolvimento das cidades”, salientou Gamboa. “Com o nosso nível de desigualdade, teríamos uma guerra nuclear”, acrescentou.
“Talvez o erro do Chile seja não dar perspectiva de mobilidade social previsível, pois não é natural que um filho não consiga ter uma condição de vida melhor do que a dos pais, mesmo vivendo em um país onde os indicadores econômicos apresentem bons resultados”, analisou o copresidente do CEEP – Núcleo de Política e sociólogo, Paulo Delgado.
Além do cenário latino-americano, o conselho, em sua última reunião em 2019, discutiu as perspectivas para o comércio, a inflação e a economia brasileira para este e para o próximo ano.
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