Correio Braziliense e Estado de Minas – domingo, 22 de dezembro de 2019.
O homem, através da história, é sobrevivente e repetitivo. Avisado pela religião, pelos mais velhos, pela força dos fatos e, agora, pela ciência, ele não aprende. Continua produzindo lixo desnecessário, construindo casas na areia e errando.
Como antecipado, a COP-25 teve muito pouco resultado. Não há líderes mundiais da sustentabilidade, clima político para que o mínimo denominador comum entre os países seja um que diminua para valer as emissões de efeito estufa. O que existe pelo mundo é desconfiança de sobra e muito pouca solidariedade internacional. As pessoas querem pagar para ver o que a mudança climática trará para o planeta. Pelo menos, por enquanto. Ou melhor, não há incentivo suficiente para pagar por ações que alterem a matriz energética para fora do combustível fóssil.
É verdade que o clima da Terra passa por alterações que independem da ação humana. Se olharmos o muito longo prazo, áreas frias já tiveram clima tropical e vice-versa. Entretanto, desde a Revolução Industrial do fim do século 18, vivemos uma época em que as ações do ser humano marcam o funcionamento natural do planeta de modo significativo.
Muitos efeitos colaterais da atividade socioeconômica são bem observados perto de onde ela se desenrola e parecem ser problemas locais. Por outro lado, a emissão de gases de efeito estufa afeta o clima e, por conseguinte, inúmeras relações que podem ter nada a ver com a origem da emissão. Por conta de seu caráter sistêmico, são problemas impossíveis de serem resolvidos isoladamente. Demandam educação, coordenação e colaboração.
Entretanto, o mundo passa por uma fase negadora do multilateralismo. É como se vivêssemos em um mesmo condomínio, sem reuniões e em desarmonia entre os condôminos. Ou vivêssemos em cidades — como as que existem no Brasil — onde o lixo está pelas ruas e, por isso, parecem mais poluidoras do que as “limpas” cidades ricas.
Todo mundo produz lixo do qual precisa se livrar. Sem destinação organizada, vem o jogo de empurra que tanto prejudica os bairros pobres. Mas poluição para valer quem produz é a economia dos países ricos.
Dentre o posicionamento dos países, a postura “realista e pragmática” dos Estados Unidos é a chave para se entender onde isso vai dar. Os EUA não se comprometem como país a diminuir suas emissões. Não topam nada que comprometa sua posição de riqueza e poder, a qual é ancorada desde o século 19 em abundância de energia barata. Afinal, o país é o maior produtor de petróleo do planeta.
Ao mesmo tempo, sua sociedade civil se orgulha e se sente bem, pois, no nível subnacional, estados, cidades, empresas, famílias e cidadãos se comprometem com entusiasmo com reduções locais de atividades causadoras de gases do efeito estufa. Em suma, os EUA querem liderar nos dois lados: empurrar com a barriga a fumaça e expandir o uso do combustível fóssil para garantir o crescimento tradicional, ao mesmo tempo em que incentivam setorialmente medidas para ser a ponta das tecnologias que auxiliem na mitigação da mudança climática.
Se ter lixo na rua segue sendo sinal de baixo desenvolvimento socioeconômico e incapacidade do estado, pouco caso com a natureza também entrou decisivamente no imaginário como a cara do poluidor sujo, incapaz de cuidar de si mesmo. A Suécia, por exemplo, emite mais gás carbônico per capita do que o Brasil. Já o Canadá emite múltiplos de gases de efeito estufa em geral em comparação ao Brasil. Todavia, tanto Suécia quanto Canadá têm a imagem de enorme responsabilidade e preocupação com o meio ambiente. E, de fato, têm. Mas são melhores ainda de construção da imagem de ecologicamente corretos. E é imagem que mais vende no século 21 e, quem a tem boa pode ir tocando seus negócios.
O movimento sociopolítico global contra o aquecimento da Terra não pode se tornar um movimento contrário ao desenvolvimento.
Segundo o Banco Mundial, em 1970, quando o Brasil vivia o milagre econômico, a Suécia emitia 12 vezes mais gás carbônico per capita do que nosso país. Ou seja, se for ser considerado o estoque de emissões de gases do efeito estufa, como deve ser, os países desenvolvidos têm uma responsabilidade pelo aquecimento global muito maior.
De tão grande é quase impagável e, assim, não querem pagar. São eles que fizeram a COP-Nada. Por isso, temos que repensar nossa estratégia, pois águas passadas dificilmente moverão moinhos. Não dá para vacilar. Nossa produção, tecnologia, cultura, políticas têm todas que prezar por serem ambientalmente responsáveis e inovadoras com relação à essa agenda de sustentabilidade verde.
O Brasil verde é que é ambiental e financeiramente sustentável.
Boas Festas para todos. Feliz 2020.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. This category only includes cookies that ensures basic functionalities and security features of the website. These cookies do not store any personal information.
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.