12 de julho de 2011

Os extracomunitários

O mundo foi se tornando irrelevante para norte-americanos e europeus, seguros dessa imensa propriedade de dois donos. Napoleões modernos movidos pela política pura, essa atividade onde predomina mais ação do que motivos relevantes. A missão autoatribuída dos gigantes complicou-se justamente pela política.
20 de julho de 2011

Instinto Selvagem

Somos o que nos falta, dispostos a tolerar o excesso pondo a culpa na escassez. Até que o descontrole transborde em crime ou grosseria e seja contido pela força dos incomodados. Quem sabe está aí o interesse de muitos pelo que fazem os outros, especialmente seus abismos e avessos. A curiosidade diante de personalidades exibidas desperta mais atenção quando a notícia sugere que sua alma foi decifrada. É que todos são sempre um pouco ridículos no competitivo mundo dos estigmas e preferências. A notícia “avisa” da existência de uma deformação da vida e sua rotina e aponta o caminho ou a pessoa que deve ser evitada ou imitada. E se encontra leitores é porque o escândalo nem sempre é um olhar para fora de nós mesmos.
26 de julho de 2011

Escudos e Alvos

Com efeito, a integração física e econômica da América do Sul tem os mesmos fundamentos dissuasivos e pacifistas de nossa política de defesa. E permite modernizar o arcabouço jurídico precário que rege as relações entre nossos vizinhos para aumentar a conexão e a interação interregional e global. Só benefícios partilhados articulam comércio e paz, dois dos maiores bens públicos internacionais.
1 de agosto de 2011

Percepções

A China chegou lá. Ou se não chegou de fato, na cabeça do mundo não tarda em chegar. Será mesmo uma riqueza confiável ou aquela maré cheia, que aparentemente levanta todos os barcos? É o que pode se inferir da opinião apresentada em recente relatório do Centro de Pesquisas Pew, baseado em Washington. Quinze dos 22 países mais ricos acreditam que a China ou tomará ou já tomou a posição dos EUA como a principal potência entre as nações.
11 de agosto de 2011

Adeus, Tocqueville!

Até aqui, os americanos evitaram com sucesso todos os perigos da manipulação da democracia. Admirado com o senso de bem comum dos líderes que visitava, assim pensava o aristocrata francês na América. Observou ali que a liberdade política exerce forte papel no desejo de se associar em busca do progresso e da felicidade. É mesmo útil à produção da riqueza. O espírito de grupo e sua regras fechadas, este sim é tirano. E opõe-se diretamente ao gênio do comércio e aos instintos do desenvolvimento.
16 de agosto de 2011

A inconsistência da ONU

Não... não se trata de genocídio! São massacres intermitentes ou homicídios sucessivos, deu a entender a envergonhada funcionária do Departamento de Estado. E continuou indolente com as palavras, protegida pelo silêncio da ONU. A autoridade nem sempre tem noção de que, mesmo entre humilhados, é soberana a compreensão do vocabulário do outro. E todos ali sabiam bem que, diante do genocídio, o poder de intervenção arbitrária e o uso da força para impor a paz são parte da razão da existência das Nações Unidas. O que ela queria esconder é que não havia consenso e decisão entre os grandes países sobre o valor da vida humana naquela região do mundo.
28 de agosto de 2011

Reflexos da Índia

A Índia é movimento e multidão. Quando Anna Hazare, um senhor de 74 anos, foi preso por protestar contra as talhas e limitações contidas na lei anticorrupção, o verão em Nova Délhi esquentou mais ainda. Imediatamente, milhares de pessoas saíram às ruas para apoiar o líder. Querem que a lei, em discussão no parlamento indiano, seja alterada, para acabar com as exceções que livrariam políticos e magistrados de serem julgados. "Só é aceitável um forte Lokpal (escritório anticorrupção) de vasto alcance que possa julgar qualquer cidadão suspeito de práticas fraudulentas, sem importar cargo, poder ou condição social", advertiu, sem autopiedade, o ativista anticorrupção. O premiê indiano não aceita a forma escolhida por Hazare para protestar. "A greve de fome... é um caminho totalmente equivocado e carregado de consequências para a nossa democracia."
5 de setembro de 2011

Enigmas da Rússia

Quando José Alencar, então vice-presidente da República e ministro da Defesa, atravessou o primeiro corredor da gigantesca fábrica dos imponentes caças Sukhoi e viu extintores de incêndio vencidos, computadores ultrapassados e muita poeira, pegou no meu braço e sapecou: "Isso aqui tá pior do que a pior fábrica de móveis lá de Ubá". Ironia síntese da decadência tecnológica e do abandono da economia do conhecimento, a competitividade soviética acabou imersa numa indústria mecânica fixada em guerra.
13 de setembro de 2011

Adeus, meninos

A história é sempre mais dura do que parece para quem a viveu do que para quem escreve sobre ela. Mas a totalidade dos seus efeitos ultrapassa a compreensão humana imediata. Lembro-me bem da terça-feira, 11 de setembro de 2001. E cada vez mais vejo suas conseqüências por todos os lados.
18 de setembro de 2011

Permanências argentinas

Os foguetes lançados pela Argentina contra seus inimigos na Guerra das Malvinas não chegavam ao seu destino. Fabricados pelos franceses, os mísseis Exocet tiveram seus códigos-fonte revelados aos ingleses, que os desviavam do alvo. É que, para ser completa, a manipulação do nacionalismo exige autonomia tecnológica e industrial. E também capacidade de perceber que, no comércio entre nações, a economia e a geopolítica do fabricante de qualquer mercadoria falam mais alto do que eventuais interesses de clientes secundários.
26 de setembro de 2011

O Martírio do Dever

Um dos mais preciosos versos produzidos pela inesgotável guerra entre palestinos e judeus é do poeta israelense Yehuda Amichai: “do lugar de onde temos razão não nascem flores na primavera”. Ali do lado, o vigoroso poeta palestino Mahmoud Darwish compreendia que a natureza daquele conflito era a luta entre duas memórias que deviam se fazer conhecer e respeitar. E confirmava, através da altiva identidade dos seus versos, que a paz é melhor compreendida por poetas do que escrita por políticos.