Os jovens do mundo pedem socorro

04/12/2022

A Justiça tem vários aspectos e seguramente o mais importante é o princípio da liberdade para todos. Mas para os jovens o princípio da igual participação nas oportunidades da vida é também essencial. Qualquer governo bem organizado para administrar a democracia deve ser capaz de atender aos princípios da participação. E sem olhar para os jovens a democracia é uma bagunça sem futuro.

Os talentos que a natureza distribui para todos sofrem interferência da vida social e econômica. São influenciados pelo local de nascimento, a forma política de conduzir a sociedade e as fatalidades que podem atingir a todos. A natural angústia e isolamento dos jovens não é por motivos estéticos. É real a distância, e o jovem percebe, entre o que ele espera da vida e o que de fato acontece. Equívocos, incompreensões inaceitáveis, falta de paciência, dificuldades econômicas, barreiras culturais, estão fazendo o caos em muitas famílias, sem remodelar ou reestruturar velhos conceitos e vontades.

Democracias ao redor do mundo, da Alemanha aos EUA, diante da catástrofe da pandemia, que ainda não acabou totalmente, decidiram ajudar mais um pouco os jovens, os mais esquecidos nas políticas emergenciais de enfrentamento da crise provocada pela pandemia. A Alemanha, especialista nos programas de integração entre educação, empresas e atividades cívicas está expandindo a porta de entrada para os jovens através de serviços tanto de orientação civil quanto militar.

Os EUA reativaram programas que deram diversas ocupações aos jovens durante crises econômicas passadas. Decidiram expandir as oportunidades de serviço para populações vulneráveis. O importante é que jovens estejam estudando, treinando e trabalhando.

O mundo tem hoje quase 2 bilhões de jovens entre 15 e 29 anos, sendo mais de 50 milhões no Brasil. Em todos os países é sobre quem recai a maior taxa de desemprego. Acrescida da baixa esperança para o jovem que estuda. Se as ações governamentais fossem capazes de combinar programas de estudo e trabalho, o desemprego e a evasão escolar seriam combatidos ao mesmo tempo. Unindo o desejo de inovar das empresas à responsabilidade pública do Estado, por meio de programas de estágio e aprendizagem.

Programas governamentais de emprego sem estudo são gasolina na evasão escolar. E estudar sem objetivo prático ou fazer um curso técnico para substituir o estudo só aumenta a frustração e a desigualdade. Estudo sem trabalho é uma ilusão no horizonte do jovem. Porque saber e fazer devem andar juntos. Diploma e carteira de trabalho, orgulho e realização do jovem e sua família.

O Estado não deve fazer o papel de agente econômico, mas precisa dar a direção em áreas importantes como agregador dos diversos e conflitantes interesses sociais. Em momentos de crise como agora é essencial apontar a direção e o rumo a ser seguido.

Por várias razões, estamos vivendo ao mesmo tempo o colapso das estruturas tradicionais da economia e o surgimento de novas oportunidades de trabalho e renda. Nos próximos 20 anos surgirão mais de 70 profissões novas pelo mundo. Enquanto deixarão de existir mais de 1 mil especialidades que já se tornaram ou se tornarão obsoletas.

Se queremos viver com menos nostalgia e mais esperança, é preciso entusiasmar o jovem para o futuro. Criando condições para sua integração à vida familiar e comunitária, através de sua inserção ao mercado de trabalho como estudante. Uma das possibilidades virtuosas de melhoria do ambiente social é uma questão de sobrevivência da economia. E o tripé jovem feliz-escola sensível-empresa com responsabilidade social é o horizonte do futuro.

O jovem em conflito com a lei precisa de programas de ressocialização, através do estudo e do trabalho, para a redução da violência e da reincidência criminal. Pessoas, empresas ou instituições que acolhem e dão oportunidade a um jovem desses, os sensibilizando para uma nova trajetória de vida, deveriam receber o Nobel da Paz.

O jovem estimulado é uma pessoa singular, daquelas que quando entram pela porta ampliam o horizonte do lugar. Faz melhor quem se alegra nas coisas que faz. Escutar seus sonhos, dar honra à sua imaginação, oferecer oportunidades, é o mínimo do que precisam para se livrar da angústia com o futuro. Aliás, se salva menos quem não se preocupa que todos se salvem.

Paulo Delgado
Paulo Delgado
Sociólogo, Pós-Graduado em Ciência Política, Professor Universitário, Deputado Constituinte em 1988, exerceu mandatos federais até 2011. Consultor de Empresas e Instituições, escreve para os jornais O Estado de S. Paulo, Estado de Minas e Correio Braziliense.

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