Correio Braziliense e Estado de Minas – domingo, 10 de novembro de 2019.
A boa relação internacional é previsível e rotineira. No meio desta semana, o Brasil confirmará isso ao sediar a XI Cúpula do Brics. Bolsonaro, Putin, Modi, Xi Jinping e Ramaphosa terão a oportunidade de confirmar que são boas ideias que mudam o mundo, não más notícias. Especialmente ideias originadas de cinco tão singulares civilizações.
O grupo representa 44% da população mundial, cerca de um quarto da terra e outro quarto de seu PIB. Não há mais espaço para se discutir questões globais sem a participação dessas nações. Melhor seria se a competição entre eles não produzisse distorção na compreensão da importância um do outro.
Mais adequado ainda do que o Brics é o G20. E um ponto ótimo é caminhar para um Brics com a participação da União Europeia e dos EUA. Aí sim, o mundo poderá combinar perdas passadas com apetite futuro. E, quem sabe, fazer um balanço das 323 manifestações, pacíficas ou violentas, que agitam o mundo atual para decidir que já é hora de parar de usar qualquer movimento de revolta como propaganda política movida por sentimentos partidários.
O Brasil é uma nação nova, e assim como os EUA, detém uma das maiores populações do novo mundo. Ambas formadas por povos vindos de toda Terra. É natural um alinhamento entre EUA e Brasil, fortalecido pela derrota conjunta do fascismo no continente europeu na Segunda Guerra Mundial. Ora, mas tão significativa para a vitória aliada foi a participação do que são hoje a Rússia e a China. Assim como a Índia e a África do Sul, por meio da commonwealth britânica. Não há nada no Brics destoante da ordem mundial fundada com a vitória aliada. É, de fato, uma cúpula de vencedores.
De 2001 a 2011, os EUA focaram sua estratégia de segurança nacional na esdrúxula guerra ao terror. Por conta de teorias desenvolvidas nos anos 1990, durante o vácuo deixado pelo desmonte da União Soviética, os EUA se jogaram de cabeça no Oriente Médio. Aquela região do mundo sofreu muito com a tentativa de se resolver com violência situações em que sequer tinha-se clareza o que se buscava. Fora o caos, o que se alcançou foi um fenomenal avanço das tecnologias de vigilância, capilarizando a microfísica do poder por chips invasores na vida das pessoas.
Em 2011, o transatlântico da estratégia de segurança nacional americana cansou do Oriente Médio, tomou susto e birra com os avanços do mundo que não estava focado em guerras e ajustou seu curso para a Ásia. Desde então, essa reorientação para o Pacífico vem sendo construída em meio às consequências da maior crise financeira desde a Segunda Guerra. O Brics não podem embarcar nesse navio.
Para entender a escalada da encrenca geopolítica do mundo, um excelente início é tomar conhecimento da Estratégia de Segurança Nacional americana. Em 2010, a menção à Rússia no documento é majoritariamente benigna. Só com um detalhe mencionando que os EUA estavam atentos para a defesa da integridade dos vizinhos da Rússia. Em relação à China, a situação é a mesma, com ênfase na atenção aos investimentos militares do país. O Brasil é citado seis vezes. A atenção à segurança cibernética está ali como uma constante de assombro.
Em 2015, o conflito com a Ucrânia torna a Rússia um foco azedo do novo relatório. Mas a linguagem já é a de que “o potencial da Índia, o crescimento da China e a agressão da Rússia, todos impactarão significativamente o futuro das relações entre grandes potências.” Com relação à China, vem à tona a ansiosa linguagem de que se buscará “gerir a competição a partir de uma posição de força.” O Brasil só é citado uma vez e não mais numa perspectiva do Brasil no mundo, mas do papel dos EUA no Brasil.
A estratégia de segurança nacional em vigor, publicada em 2017, dá nome aos bois de modo cru. Imprimindo a visão de que Rússia e China querem “erodir a prosperidade e a segurança dos EUA.” O primeiro é citado 25 vezes, o segundo 33 vezes para formar a imagem de que são ameaças e de que são revisionistas, uma das palavras mais perigosas e injustas desse debate. À Índia é reafirmada a ampla cooperação americana. O Brasil sequer é citado, embrulhado num hemisfério ocidental cujo único parceiro é o Canada. E onde China e Rússia são rivais tentando plantar sua influência.
Com esse clima de confronto, tanto risco quanto incerteza estão nos píncaros, aumentando em todos os países a angustia da esperança. Os países não estão conseguindo escrever o texto dessa vida que possa diminuir a angústia dos jovens. Cabe à política cuidar de proteger a riqueza da vida, e não somente da economia exclusiva.
A reunião de Brasília pode contribuir para o entendimento de que a política conflitiva não pode imperar sobre a economia construtiva e inclusiva.
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