Correio Braziliense e Estado de Minas – domingo, 19 de Maio de 2013.
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, PISA, exame da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE, lançado em 1997 avalia estudantes de 15 anos ao redor do mundo a cada três anos. Em seu último relatório, agora de 2013, é notável ver alunos de classes desfavorecidas de Shanghai e Hong Kong saírem, comparativamente, melhor do que jovens de países ricos. Ambas as cidades estão, solidamente, no topo geral das avaliações do PISA: Shanghai, com seus 23 milhões de habitantes, é a primeira no ranking internacional em todas as três áreas do conhecimento testadas. A China ainda não permite que resultados mais gerais sobre o país sejam divulgados (o que não quer dizer que eles não façam constantes e minuciosos exames e estejam sempre atentos aos resultados publicados pelos outros países). De qualquer forma, o fato é que, segundo pesquisadores da OCDE com acesso aos exames, os resultados do resto do país, ainda que discrepantes dos observados em Shanghai e Hong Kong, também surpreendem positivamente. Dos países da OCDE, os vizinhos Japão e Coréia do Sul, além de Finlândia e Canadá, são o destaque do que é praticar justiça educacional com seus jovens.
Às vezes basta ser intuitivo para saber porque a desigualdade social caminha junta com a desigualdade educacional. Países ricos se mantêm na ponta através de gerações pela qualidade de sua educação; de igual maneira a transição para se tornar um país de ponta é realizada por aqueles que apostam na educação de uma maneira radical. Como em toda corrida, quem parte um pouco de trás tem que correr um pouco mais.
O custo alto e a desejável celeridade do processo demandam, aliás, o acompanhamento constante dos objetivos checados por avaliações montadas para tal fim. Sobre esse assunto, o mais recente estudo da OCDE sobre programas e ferramentas de avaliação do desempenho de estudantes, professores, líderes escolares, escolas e sistemas educacionais em 28 dentre seus 34 países membros oferece um sumário de boas práticas. Sobretudo, mostra como o processo de decisão das políticas públicas caminha, cada vez mais, para maior uso de evidências práticas de sucesso, focadas em detalhes logísticos e conceituais da ação mais do que em discussões sobre seu mérito.
Esse estudo, que foi coordenado pelo português Paulo Santiago, aponta, por exemplo, para o fato de que as “séries de reformas na educação são desencadeadas em países da OCDE pelos resultados dos alunos em avaliações internacionais”. Países como o México começaram a definir metas de resultados para alunos no PISA futuro, forçando a política educacional a se preocupar com o desempenho da escola. Avaliações internas são mais eficazes se usadas para direcionar melhorias influenciadas pela comparação internacional.
Mas não adianta apenas medir o desempenho dos alunos, é fundamental ajudar aos professores a melhorarem pois, “são os professores o fator mais importante dentro da escola para os resultados do aluno”. Na maioria dos países a avaliação tem efeito sobre promoções e a velocidade de progressão na carreira e também sobre remunerações, direta ou indiretamente. Na Austrália, por exemplo, professores se submetem à avaliação voluntariamente caso queiram ter acesso a posições com reconhecimento à qualidade do ensino, as quais conferem pagamento adicional. Também na Austrália a avaliação das escolas do país é divulgada em um website do governo (www.myschool.edu.au), onde é fácil comparar os recursos, as características e os desempenhos das escolas espalhadas pelo país. O site provê ainda uma boa introdução explicativa sobre cada escola.
Aprofundar, valorizar e melhor trabalhar os diversos processos de avaliação é a tônica nos países que sabem que a educação é que define a real riqueza do país. Países atentos uns às experiências e desempenhos dos outros enfrentam melhor o atraso de suas sociedades. Não é para menos que essa semana em Washington a instituição mais próxima da administração Obama dedicada a pensar boa parte das políticas que depois ganharão os corredores da Casa Branca e do Capitólio – um think tank chamado “Centro para o Progresso Americano”, o CAP, na sigla em inglês – promoveu justamente um seminário intitulado “O que as escolas dos EUA podem aprender de outros países?”. Um dos três trabalhos apresentados foi justamente sobre Shanghai. Os americanos estão intrigados com o fato de a megalópole chinesa conseguir, não apenas apresentar os melhores desempenhos educacionais do planeta entre jovens de 15 anos, mas, também, que esse desempenho conte com maior uniformidade entre classes sociais e escolas do que ocorre nos EUA.
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PAULO DELGADO
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