Entrevista – Paulo Delgado “Nossa cor não é azul, é vermelho”
O Globo – Corpo a Corpo
BRASÍLIA – Mais antigo parlamentar da bancada petista na Câmara, o deputado Paulo Delgado (MG) afirmou que o presidente Lula tem que repensar sua estratégia de se dissociar do PT e liderar um movimento para recuperar a história do partido. Ele cobrou mudanças no programa eleitoral.
Maria Lima
O GLOBO: O que o senhor achou de o presidente Lula ter renegado o PT, tirando-o do programa de rádio e TV?
PAULO DELGADO: Há uma semana, quando o Lula foi a Santos Dumont, em Minas, eu lhe disse que a nossa cor não é azul, é vermelho. Disse a ele que em um momento de crise partidária, todos temos de reforçar a nossa história original e não mudar de cor. Achei muito estranha essa mudança. Usando a metáfora do futebol, que ele gosta, nenhum flamenguista muda de camisa quando o Flamengo perde.
O PT não é mais importante na campanha?
PAULO DELGADO: A militância deixou de ter influência na tomada de decisões. É a característica dos marqueteiros, tirar a substância dos programas eleitorais. A política se dissolveu no marketing. O militante só faz parte da propaganda de rua, mas não da campanha de TV ou do governo.
O que mais precisa ser corrigido na campanha de Lula?
PAULO DELGADO: O mais grave é a desvalorização das instituições públicas. Essas campanhas sem identidade partidária diminuem a reputação dos partidos e da política. Isso transforma o eleitor em assistente ou espectador em programas de celebridades, sem vinculação real com a vida da sociedade. Como se a eleição fosse um estado de espírito que não tenha nada a ver com a vida real.
Isso significa que o PT agora é visto como um estorvo para a reeleição de Lula?
PAULO DELGADO: A nitidez de idéias ameaça o senso comum. E a campanha perdeu a coragem para a polarização. O programa e as cores do PT agora são inconvenientes para a campanha. O estágio atual do marketing transformou a política em suco.
Não houve coragem para defender o partido da pecha de mensaleiro?
PAULO DELGADO: O João Santana (publicitário da campanha) deve estar devorado pela idéia do PT pecador. E não nos deixa chance para a salvação. Esconder o PT não corresponde nem mesmo ao decoro concedido pela sociedade ao partido. Mas se engana quem acha que o PT perdeu a posição do partido preferido dos brasileiros.