Fundador diz que PT é um partido do contra
Delgado critica aglomerado de tendências
O Globo
Um dos fundadores do PT, o deputado Paulo Delgado (MG) aproveitou ontem a edição do Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos para fazer um diagnóstico detalhado de erros e acertos do partido em seus 25 anos de História. Delgado criticou o modelo sobre o qual o PT foi montado – um aglomerado de tendências — e observou que essa estrutura, sempre em conflito interno, é incompatível com o exercício do poder:
— Somos um partido de tendências e isso revela uma imaturidade permanente.
Para o petista, foi essa guerra interna que impediu uma política de alianças pontuais, com PMDB e até com PSDB, em áreas e projetos que chamou de “zonas desmilitarizadas”. Ele ressaltou que, na prática, isso chegou a ocorrer em parte em 2003, quando foram votadas reformas. Segundo Delgado, o governo optou por uma base parlamentar pragmática, sem um projeto no horizonte.
— O PT inaugurou o dissenso da maioria e compete com a minoria no dissenso — analisou, referindo-se às tendências internas do PT.
Ele lembrou que desde o primeiro mês do governo Lula a luta entre essas tendências atrapalhou projetos do Executivo.
Delgado afirmou que hoje os partidos políticos vivem sua maior crise:
— Nunca todos erraram tanto ao mesmo tempo.
Para o deputado, a crise também é do presidencialismo de coalizão, que se reproduz no país desde o governo Sarney (1985-l990).
O PT, afirma o deputado, é um partido “contrista” (do contra) e fascinado com a idéia do “oposicionismo triunfante”. Para Delgado, foi esse espírito que levou o partido a participar do processo de impeachment de Fernando Collor, mas a ficar de fora do governo Itamar Franco:
— O contrismo nos levou a ficar contra o Real, contra a estabilidade que favorece nosso governo.