Theresa May é a favorita na disputa contra Andrea Leadsom para decidir quem vai liderar o Partido Conservador britânico e, assim, ocupar o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido a partir de setembro. Será a segunda mulher a governar o país parlamentarista. A sombra de Margareth Thatcher ainda paira sobre a nova ocupante de Downing Street, 10, o Palácio do Planalto dos ingleses.
Onda conservadora, de cunho mais liberal, inevitável diante da inconsequência do senhor David Cameron e outros, que levaram o país, mesmo subjetivamente contrário à saída da União Europeia, à incômoda instabilidade objetiva atual. Muitas figuras austeras e consequentes se omitiram, escondidas atrás de clichês, como se houvesse duas vidas para viver. Frivolidades que cabem bem num convescote do Bullingdon Club, o contraditório clube de Oxford, onde se trocam fúteis grandiloquências.
A desvalorização da libra frente ao euro levou o valor do PIB francês a superar o PIB inglês. Manuel Valls, o combalido primeiro-ministro francês, aproveitou para sair das cordas e anunciar um plano para tornar Paris a “capital financeira do futuro”. Tal fato se concretizaria se bancos da City londrina migrassem para o La Defense parisiense. Mas a falta de credibilidade do chefe de Valls, François Hollande, afugenta grandes fortunas e fazedores de fortuna. Em seus estertores, o governo de francês agora aproveita-se do erro britânico para tentar atrair a indústria financeira inglesa com promessas de reformas na tributação.
Já se ouve, também, que a língua inglesa deveria deixar de ser língua oficial da União Europeia. O que pode parecer bravata, dado que o inglês é o Esperanto que deu certo, mas deve ser tomado como sinalização política de desconforto e desamor que o egoísmo inglês despertou no continente. Atualmente, o inglês é uma das 24 línguas oficiais do grupo porque o Reino Unido o indicou como sua escolha. Por mais que outros países também falem inglês no grupo, eles optaram por suas línguas históricas. A Irlanda, por exemplo, apontou o gaélico como sua língua e Malta o maltês. Isso pode ser refeito, claro. Será uma decisão política, seja qual for. Arrogância gera arrogância. Malta e Irlanda, que somados têm 5 milhões de habitantes, ou 1% da população total da União Europeia, são os dois únicos que sobraram no grupo com inglês como língua oficial. As três línguas de trabalho do Parlamento Europeu hoje são Alemão, Francês e Inglês. Difícil pensar que a Espanha, ou mesmo a Itália, não se entusiasmem pelo terceiro posto. Clichê que o seja, mais difícil ainda pensar que os franceses não verão aí uma rara oportunidade para requentar a importância diplomática de sua língua.
Os garotos do Bullingdon Club foram brincar de revolução. Cooptaram os sonhos mais toscos dos homens de meia-idade e de horizonte insular, como os Tentilhões que Darwin observou em Galápagos. O roteiro incluía o cansaço de receber ordem de mulher alemã e ficar disfarçando animosidade com o fraco socialista francês. Um pouco de ódio a imigrantes dos conflitos do Oriente Médio e África, postos na conta de Paris e Berlim, e desprezo à amorfa Bruxelas com aqueles prédios horrorosos da UE. “Os meus pobres escolho eu”, bradaram os bens fornidos de Oxford. A Turquia, coitada, acabou difamada de todo modo, porque, no fundo, é metida com os alemães.
Após quebrarem as louças da unidade e espalharem a algazarra sobre o país se esqueceram, como lembram bem os portugueses, também grandes navegadores, que inglês bom é o que viaja e faz os EUA, ou Hong Kong.
Pode até dar certo esse caminho do Reino Unido fora da União Europeia, mas não com a liderança e a linguagem dos que construíram tal saída. Educados que são os ingleses e, bem conscientes da necessidade de zelar por suas rendas, já começaram a se recompor.
Theresa May, que parece que irá ganhar, declarou voto contra sair da UE. Como qualquer pessoa, para ascender na política dos países organizados e viáveis, ela frequentou, em algum momento da vida, suas melhores escolas. É assim na Grã-Bretanha, nos EUA, na França e também na China. Theresa May, por exemplo, começou seus estudos nas escolas públicas gratuitas britânicas e nunca foi a colégios como Eton, extremamente caro e elitista, onde estudou David Cameron. Mas também teve que ir a Oxford, onde cursou geografia, antes de ir trabalhar no Banco da Inglaterra e de lá se aventurar na política. O Partido Conservador não é bobo e foi buscar na aura daquilo que foi sua melhor experiência recente, Margareth Thatcher, a tentativa de reconstruir sua imagem de governabilidade e visão de futuro para além de tola rebeldia.
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PAULO DELGADO é sociólogo.
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