O Estado de S. Paulo – Vanice Cioccari, Vera Rosa
Tanto ou mais do que alegria, a conquista do segundo mandato pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva causa inquietação, incerteza e cobrança em relação ao perfil do próximo governo e ao futuro do próprio PT. Petistas históricos ouvidos pelo Estado demonstram preocupação com a governabilidade, as alianças e a perspectiva de dificuldades ainda maiores para os próximos quatro anos. Avaliam que é necessário reorganizar o PT, depurá-lo e garantir a participação não só em cargos, mas num modelo.
“Eu acho que o panorama é muito complexo, muito difícil”, afirma a socióloga Maria Victoria Benevides, que se diz aflita principalmente com questões como a participação do PT no próximo governo e as alianças para assegurar a governabilidade. “Velhos militantes vão ter que aceitar alianças que nos horrorizam, com ‘Jader Barbalhos e Defins Netto’, ou ficar num segundo plano?”
O economista Paul Singer, um dos fundadores do partido, é mais pragmático. “O governo tem necessidade de alcançar maioria no Congresso. O ideal seriam alianças com afinidade ideológica, mas nem sempre o que se quer é compatível com a necessidade, que é ter maioria.”
Frei Betto, membro do governo nos dois primeiros anos do mandato de Lula, teme que agora o Executivo fique “refém de forças conservadoras” e perca a oportunidade de promover o crescimento econômico e a redução das desigualdades sociais.
Para Maria Victoria, o papel do PT no atual governo já é “mofino”, ou seja, infeliz, desafortunado. “O partido teve um papel ruim porque o que apareceu foram escândalos. E o que apareceu mais foi o PT de origem sindicalista e com cargo de direção.” Impressionada pelo fato de “gente com tradição parlamentar e sem máquina” não ter sido reeleita, como o deputado Paulo Delgado (MG), ela defende a presença forte do PT no segundo mandato. “Fico aflita quando ele (Lula) diz que vai diminuir a participação do PT no governo não pela quantidade, mas sim pelas propostas e princípios. O partido tem de contar”, enfatiza.
Singer considera que o “tamanho do PT” no governo vai depender justamente das alianças com outros partidos, como o PMDB, para garantir a governabilidade. “Não acho que tudo que é estratégico para o governo tem que ficar com o PT”, afirma Singer, secretário nacional de Economia Solidária, secretaria vinculada ao Ministério do Trabalho.
Frei Betto, por sua vez , diz temer que o PMDB apresente agora, depois das eleições, a “fatura” por ter abdicado de candidato próprio a presidente. “Temo que exija mais cargos do que merece e indique políticos abaixo de qualquer suspeita.”
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