Oposição aceita apoiar petista para derrubar Severino

Conversas sobre a sucessão do presidente da Câmara se intensificam

Sérgio Pardellas, Dimalice Nunes e Renata Moura

Jornal do Brasil

BRASÍLIA – Setores da oposição já admitem negociar com o governo um nome alinhado ao Planalto para a sucessão do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), abatido pelas recentes denúncias de recebimento de propina. Com uma condição: de que o nome a ser escolhido mantenha os compromissos de transparência e continuidade do processo de limpeza da imagem da Casa.

A idéia da oposição é convergir para um consenso político caso a situação de Severino se torne insustentável. Recado assimilado por emissários do Planalto, os governistas passaram a estudar ontem mesmo uma lista de nomes que se enquadrariam no perfil exigido para o cargo. Encabeçam a preferência dos integrantes do governo os deputados Paulo Delgado (PT-MG) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). Também são lembrados para o posto José Eduardo Cardozo (PT-SP) e Sigmaringa Seixas (PT-DF).

Mesmo mantendo a disposição de não abandonar o aliado à própria sorte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também já vislumbra a possibilidade de cassação do presidente da Câmara. Em conversas com ministros do núcleo político, nos últimos dois dias, Lula avaliou que a situação de Severino se complicou depois da descoberta de um documento, assinado por ele na época em que era primeiro-secretário da Casa, autorizando a prorrogação até 2005 do contrato de concessão do restaurante Fiorella, localizado no 10º andar da Câmara.

– É necessária uma explicação contundente senão já era – teria dito Lula de acordo com um auxiliar.

A avaliação presidencial se espalhou como rastilho de pólvora nas conversas ao pé do ouvido durante o desfile de 7 de Setembro e ecoou nas declarações do deputado Paulo Delgado , um dos três parlamentares presentes ao evento. Depois de uma conversa com o deputado Sigmaringa Seixas, parlamentar amigo do presidente e dono de assento cativo no Planalto, Delgado disse esperar uma resposta célere de Severino.

– Em política, o ônus da prova cabe ao acusado – afirmou.

As conversas entre governo e oposição se intensificaram após o surgimento do documento, assinado por Severino em abril de 2002. Segundo o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), a decisão de adiar para a próxima terça-feira a apresentação do pedido de cassação de Severino no Conselho de Ética foi costurada com a própria base governista, que teria pedido um prazo para amadurecer uma avaliação sobre o caso.

Com a saída de Severino, quem ocupa a presidência da Câmara é o vice-presidente José Thomaz Nonô (PFL-AL), que conduz o trabalho por cinco sessões até que sejam convocadas novas eleições. Para Jungmann, caso as denúncias contra Severino se comprovem, o provável é que os partidos assinem em conjunto a representação.

Para Jungmann, considerando a tese de afastamento, três características seriam fundamentais ao sucessor de Severino: biografia inatacável, defesa das investigações e capacidade de diálogo tanto com a oposição quanto com o governo.

– Precisamos de alguém que una a casa e mantenha uma agenda mínima de trabalho.

Na mesma linha, os líderes do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), e da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), defendem um nome de consenso que seja capaz de restaurar os trabalhos da Casa. Para o pefelista, as investigações de irregularidades contra Severino devem seguir descoladas dos temas das CPIs.

O líder do PSB na Câmara, deputado Renato Casagrande (ES), disse que ainda não há como antecipar um julgamento do presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE). Segundo ele, é necessário avançar nas investigações da Polícia Federal para fundamentar o pedido de cassação. Mas ele admite que o afastamento dele é uma ”questão de tempo”.

No caso do afastamento de Severino, Casagrande também defende a possibilidade de um candidato único e disse acreditar nas chances de um indicado governista.

– PSDB e PFL agora têm de assumir o que fizeram. Foram imaturos, elegeram Severino e deu no que deu. Agora, espero que entrem num consenso, para finalmente, conseguirmos um equilíbrio.

Paulo Delgado
Paulo Delgado
Sociólogo, Pós-Graduado em Ciência Política, Professor Universitário, Deputado Constituinte em 1988, exerceu mandatos federais até 2011. Consultor de Empresas e Instituições, escreve para os jornais O Estado de S. Paulo, Estado de Minas e Correio Braziliense.

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