ENTREVISTA – PAULO DELGADO – “O Congresso trabalha muito mal há muito tempo”

O Tempo

BIANCA MELO

Crítico das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), o deputado federal Paulo Delgado (PT-MG) defende outros caminhos para investigação da denúncia de corrupção nos Correios. Ele não poupa comentários sobre os “aliados”: “Acham que para ser aliado do governo tem que receber empresa para dirigir. Aí vira ‘casa da mãe Joana’.”

O TEMPO – Muita coisa está travada no Congresso em função da CPI dos Correios. O que o senhor pensa a respeito?

Paulo Delgado – O Congresso trabalha muito mal e há muito tempo. A pressão da opinião pública e da imprensa sobre o Congresso faz com que se queira aprovar muita bobagem todo dia. O Brasil precisa desconstitucionalizar um número enorme de leis e ajustar o sistema legal do país à vida legal do cidadão honesto. É muito difícil ser honesto no Brasil e ser um empresário produtivo, porque a legislação não favorece o crescimento. Este é o problema clássico do Brasil.

E a corrupção?

Os fatores de corrupção estão historicamente concentrados em duas áreas do serviço público: nas áreas onde há mais dinheiro e nas que têm mais regulamentação. Quanto mais burocracia, mais corrupção. O Estado brasileiro ainda é uma ilusão de eficiência e acaba sendo um estado ineficiente. No caso de uma autarquia, como os Correios, o grande erro é a privatização a mais do que o necessário e a competição sobre os Correios, que não pode ser uma competição política. Por que um deputado ou um senador tem que ser responsável por distribuição de telegrama e da correspondência do povo brasileiro?

Mas é o caso de criar uma CPI?

O governo tem que ter velocidade para apurar e punir através do Ministério da Justiça. Sugeri à bancada do PT que o Tribunal de Contas da União fizesse uma investigação de 30 dias, mas é difícil aprovar porque há divergência de opiniões na bancada.

Essa investigação substituiria a CPI?

Ela orientaria o Congresso para tomar uma decisão. O Congresso pode pedir uma investigação, mas acho desnecessário CPI. Depois da CPI do Orçamento, nunca mais assinei nenhuma. As CPIs são instrumentos publicitários que não visam apurar e sim dar destaque ao parlamentar que a convocou. Não acho que rolar na lama seja a melhor maneira de aparecer. O congresso se viciou em uma forma única de investigação, o que acaba acostumando a população brasileira com o crime. Cada vez que você investiga e não prende, você acostuma a pessoa com o crime.

Dá para barrar?

Não sei se nossa função é barrar. A função do governo é fazer uma investigação. Barrar não pode ser o desejo de um governo em relação a uma investigação porque não temos nada a temer. O governo tem que ter eficiência investigativa. Tem muita pirotecnia na investigação brasileira. Não é uma questão do nosso governo, especialmente, e sim da maneira como se compõe governo no Brasil desde 1985. Acham que para ser aliado do governo tem que receber empresa para dirigir. Aí vira “casa da mãe Joana”.

Paulo Delgado
Paulo Delgado
Sociólogo, Pós-Graduado em Ciência Política, Professor Universitário, Deputado Constituinte em 1988, exerceu mandatos federais até 2011. Consultor de Empresas e Instituições, escreve para os jornais O Estado de S. Paulo, Estado de Minas e Correio Braziliense.

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