O Globo – 5 de Dezembro de 2016.
A crise tirou das pessoas o arrebatamento em relação a qualquer preferência política, por causa de uma lista fornecida por um balcão de negócios. Mas, mantida a falta de clarividência e tantos descaminhos, a lista que amedronta é a dos normais. A vaidade na elite do Estado parece estar sob a influência do perverso. O hiperconsumo do deslumbrado líder de esquerda devastou os progressistas. O Brasil vive uma autoflagelação do povo provocada pela elite da política. É preciso, definitivamente, encerrar o tempo em que fomos governados pelo instinto.
A ambição está moendo a imaginação moral dos Três Poderes e forjando complôs incontroláveis. Cuidado com o pedante da desordem, o furioso teatral, o civil desinformado, o parlamentar tosco, o toga esnobe, o fardado inglório de sempre. Não aceite ser prisioneiro do poder das circunstâncias.
Se você se contentar em ser contrastante de boa-fé pode ser o personagem que a sociedade precisa.
Não há palavra confiável para examinar só o confronto. O projeto, ainda indefinido, para quem quiser vestir outra indumentária, irrita os frequentadores assíduos do estabelecimento, respeitosamente chamado de “lugar de encontro dos donos do Estado”. Quem quer se manter à tona são os cegos à direita, e os sem fé à esquerda. São muitas igrejas ameaçadas. O métier de todos piorou.
E como o que escrevo parece imprecisão sentimental darei leves pistas do contexto em que diferentes destinos se parecem.
Como todo leitor é inquieto, mas não pretendo simplificar o meu relato, sugiro que use uma luneta, para ampliar o que escreve um homem míope.
Vamos lá: Junto com o dinheiro que boiou na Baia de Guanabara busquei em Foucault a inspiração para desenterrar a história da ciência política. Ele viu como que em todos os tempos são trágicas as consequências da fúria da competição, do narcisismo doentio e do combate de ideias e pessoas. Então, se apaixonou pelo encanto exótico de um sistema de pensamento mágico que leu no “Empório Celestial de Conhecimentos Benévolos”, citado em conto de Jorge Luiz Borges. Ali, o genial argentino, descrevendo a limitação dos sistemas numéricos, esbarra na ambiguidade e deficiência da classificação.
Que piorou, notei, quando as folhas chegaram borradas à superfície da água: Em suas páginas consta que os animais se dividem em a) pragas da agricultura; b) de rodeio, cuja meta é apenas permanecer em cima do arreio ; c) de farda, que põe terno na ninhada para se aposentar candidato a presidente; d) amarelos, diplomata fadigado de cobiça e cupidez ; e) cupins, indiferentes à saúde da indústria; f) que odeiam o bom comercio; g) amestrados; h) iletrados que fazem leis em benefício próprio; i) domesticados; j) caçador, que não admite ser caçado; k) de toga, imutavelmente vaidoso, circunstancialmente modesto; l) religioso, que não revela a verdade m) sanguíneo, que de longe parece doador, mas é receptor.”
É uma lista infindável de incongruências. Alucinação? Nada. Vozes da elite em ruina com todas as qualidades para pôr o país a perder.
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Paulo Delgado é sociólogo
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