Folha de São Paulo – Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
Que o exemplo dos timorenses nos traga a motivação de construir o Brasil dos brasileiros |
JOÃO HERRMANN NETO
PAULO DELGADO
PEDRO VALADARES
São sete os países de língua portuguesa: Portugal, Brasil, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Será Timor Leste o próximo? Qual a importância disso? Quando da nossa “principesca” viagem à Ásia, na busca do raiar de uma nação, quantos não foram os que nos inquiriram por que, com tantos problemas que nos afligem, buscávamos lá longe a solução para os problemas dos outros? Esse talvez seja o teorema de maior afirmação do Brasil. É um país tão grande que pensamos que os problemas só existem e se solucionam dentro dele. O Brasil precisa expulsar-se de si mesmo, transformar-se em um país menor que sua continental extensão e apequenar-se perante esse grande mundo contemporâneo.
Timor Leste tem nossa idade. É nosso primo. Tem nossa cultura matriz, uma língua-mãe. É pobre, reparte conosco sua exclusão. Não tem negócios a nos oferecer, mas precisa de nós. O pobre reparte o pão, o rico o dá e cobra por ele. O Brasil tem o que dar a Timor Leste e ele tem o que nos dar.
De 1975 até hoje, os timorenses contam 300 mil mortos, em 24 anos de embate pela independência. Foi quase o mesmo tempo de nossa luta contra a ditadura recente.
Vimos um país em chamas. Bravo, intimidado, seu povo lutando nas ruas para votar pela sua vontade. Vimos um exemplo. Vimo-nos há quase 200 anos, lutando pela libertação.
Voltar de lá ao nosso país é trazer um modelo. Não se trata de neoliberalismo ou economia de mercado. Nem tampouco de privatização ou reforma do Estado.
O Timor Leste que nasce é fruto de um desejo, de um profundo afirmar-se como povo. Fomos assistir a um plebiscito, assistimos a um parto. Esse é o mundo hoje: dos que lutam ou dos que se acomodam aos modelos existentes. Fomos observar um pleito e voltamos com um pleito.
O Brasil tem de se parir, nascer para o mundo, liberto de seus preconceitos. Acreditar na força de seu povo, construir o seu modelo de nação.
Fomos como solidários, voltamos revolucionários.
Que o exemplo dos timorenses -dos humildes personagens que, ao lado de tanta coisa nova no mundo, buscam a novidade de ser livres- possa nos trazer a motivação de construir o Brasil dos brasileiros.
Saiamos de dentro de nós na busca da solidariedade. Que o grito de liberdade nas terras e montanhas que frequentamos ecoe no povo deste Brasil.
João Herrmann Neto, 53, engenheiro agrônomo, é deputado federal pelo PPS-SP.
Paulo Delgado, 47, sociólogo, é deputado federal pelo PT-MG.
Pedro Valadares, 34, advogado, é deputado federal pelo PSB-SE. Os três representaram a Câmara dos Deputados em missão oficial a Timor Leste, como observadores da ONU (Organização das Nações Unidas).
Leia também em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz10099910.htm
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